segunda-feira, 30 de junho de 2008

Do "tchá-tchá-tchá" ao rock de garagem

Por Angelo de Assis

“Lúei luái, ou nou, sê uí gara gou. Ie-ie-ie-ié”. Cantado assim, num inglês de bêbado que arremeda um improvável sotaque jamaicano, começa “Louie Louie”, hit gravado pelos Kingsmen que fala de um marinheiro que deseja voltar à terra natal para rever a amada.

Vários críticos consideram essa versão de 1963 a pioneira do que seria conhecido como rock de garagem: guitarras estridentes tocadas sem muita técnica; bateria sem sofisticação; baixo que se faz ouvir mais pelo volume do que pela destreza do instrumentista; vocais que não exigem de quem empunha o microfone mais do que o dom da fala, ou pelo menos do grito.

A versão dos Kingsmen tem ainda um teclado, tocado sem sutileza, marcando o riff que a tornou famosa, tão pegajoso que quem ouve uma vez não esquece mais. Se duvidar, experimente ver – ou melhor, ouvir – para crer.

Lançada quando os Beatles chegavam ao sucesso, “Louie Louie” chama a atenção por condensar a cartilha que muitas bandas seguiriam apenas tempos depois: arranjos rústicos em canções que não eram nenhuma maravilha em estúdio, mas serviam bem ao espírito anárquico dos shows de rock. E letras nada poéticas, mas entoadas pelo respeitável público depois de algumas cervejas.

Mas a história de “Louie Louie” começa bem antes dos Kingsmen. Composta em 1956 por Richard Berry, a canção estava mais para rythm & blues do que para rock, que dirá rock de garagem. E nem Berry foi original, pois a composição, digamos, “baseia-se” em outra mais antiga, a desconhecida “El Loca Cha Cha”, gravada por um certo Rene Touzet.

Só que mesmo a versão de Touzet é uma regravação de “Amarren Al Loco”, canção latina de Rosendo Ruiz Jr., músico cubano. Mas Touzet trouxe a inovação do famoso riff que seria copiado por Berry em “Louie Louie”. Depois disso, a música recebeu ainda uma versão já mais para rock dos Wailers – banda de Tacoma, Washington (estado do noroeste americano que tem o mesmo nome da capital), que nada tem a ver com o grupo de Bob Marley.

Foi a versão dos Wailers que os Kingmen tentaram imitar, gravando em um estúdio de sua cidade, Portland. A qualidade de som era precária, com míseros três canais de som. Reza a lenda que o problema não era o estúdio, que não era dos piores, mas o produtor da banda, que resolveu dar um “quê” de ambiente ao vivo para a música.

Se essa era a idéia mesmo ou não, ninguém garante. Mas deu certo. Como não conseguiram executar a música do mesmo jeito que os Wailers ou Berry, os Kingsmen tocaram com uma pequena mudança no riff. Apesar da indigência técnica da gravação e da banda, essa se tornou a versão clássica “Louie Louie”, o suposto marco zero do garage rock.

A despreocupação da gravação dos Kingsmen é tamanha que na segunda parte da música o vocalista Jack Ely parece esquecer a letra, pára no início no verso e em seguida o retoma como se nada tivesse acontecido. Há quem diga que a banda só seguiu tocando porque nenhum dos músicos conseguia ouvir o som do microfone de Ely durante a gravação.

Seja como for, o hit despojado – e o único ainda lembrado – dos Kingsmen entrou para a lista de covers de dez entre dez bandas de rock que não sabiam ou não estavam interessadas em tocar bem. E justamente devido à forma relaxada como foi gravado.

Mas a história da música prosseguiria. Embora não muito popular no Brasil até hoje, ela foi regravada por centenas de bandas mundo afora, mas sempre com base na versão dos garotos de Portland. Desentendimentos entre eles porém logo dividiram a banda. Diz-se que Ely saiu prematuramente por não levar muita fé na carreira de roqueiro. Quando a música estourou e ele tentou voltar, não foi aceito.

O baterista Lynn Easton registrou para si os direitos sobre o nome da banda e anunciou que seria seu líder e vocalista. Mas dali em diante, sempre que podia, “cantava” com playback. E Jack Ely não deixou por menos. Desprezado pelos antigos colegas, formou outra banda com o mesmo nome e saiu em turnê.

Mas nem com duas formações na estrada os Kingsmen conseguiram emplacar outro hit à altura de “Louie Louie”. No fim dos anos sessenta, nenhuma delas estava ainda ativa. Quanto ao esquecido Richard Berry, ele riu por último antes de morrer em 1997. No final dos anos 80, recuperou os direitos autorais sobre a música. E até ele fez uma regravação de “Louie Louie” para uma coletânea de sua gravadora.

Difíceis de encontrar em disco, as primeiras versões de “Louie Louie” estão à disposição de qualquer um na internet, incluindo a de Richard Berry e a dos Wailers. Aliás, encontram-se até versões antigas de “El Loco Cha Cha” em ritmo cubano, que em nada lembram “Louie Louie” por não terem o riff introduzido por Touzet.

No Youtube, há dezenas de versões, incluindo uma dos Stooges com letra considerada pornográfica. A mais bizarra que encontrei porém foi uma que mostra um Jack Ely já sexagenário cantando “Louie Louie” a capella para... um cavalo! Um triste flagrante de senilidade? Não, ele estava apenas se divertindo sem dar a mínima para o que iriam falar. Uma atitude bem rock n’ roll, não?

domingo, 29 de junho de 2008

Por que a atual inflação pode ser didática para o país

Por Angelo de Assis

O Brasil atualmente cresce cerca de 5% ao ano. Isso é bom, mas o limite de crescimento econômico do país parace ter sido atingido. Tanto que a inflação está aí de volta para não deixar dúvidas. Não cresceremos 10% ao ano como a China. Não pelo menos seguindo o atual modelo econômico.

Mas e por que a inflação está dando as caras? Simples. O crescimento econômico melhorou a renda das pessoas, especialmente as mais pobres. Como entre elas há uma grande demanda reprimida por consumo, elas foram às compras. Mas aí a indústria passou a não mais dar conta de atender tal demanda. Quando começam a faltar produtos, leva quem paga mais. Ou seja, há aumento de preços, inflação.

E qual a solução? Não é difícil identificá-la, mas não é fácil implementá-la.O país precisa ser mais produtivo, as indústrias precisam de mais agilidade para produzir mais e atender a demanda. Mas para isso seriam necessárias algumas mudanças estruturais que o país nunca esteve disposto a encarar de fato.

A legislação trabalhista continua obsoleta, ainda remonta à década de 50. Sob o pretexto de proteger o trabalhador da ganância dos patrões, no ambiente atual ela causa males à força de trabalho. Tornou-se um incentivo à não contratação formal, uma vez que gera uma burocracia cara para quem contrata e dificulta a demissão quando ela é necessária. Assim, muitos trabalhadores vêem-se condenados a atuar sempre no setor informal, sem qualquer dos direitos que a legislação deveria garantir.

Além disso, no ambiente atual de competição em nível global, tanto as exigências da legislação trabalhista quanto a burocracia estatal dificultam primeiro a criação de empresas e depois o seu crescimento. Elas não permitem às empresas a dinâmica que elas deveriam ter para se adaptar às circunstâncias da economia: surgir ou expandir-se quando há demanda e serem desfeitas ou demitir quando há contração.

Apesar da adoção de políticas econômica e cambial mais liberais pelo governo Lula, a burocracia para criar ou extingüir empresas ainda é grande e mexer na legislação trabalhista é tabu. O resultado é que a economia cresceu, mas esse crescimento rapidamente chegou a seu limite. Daqui para frente, crescer mais significa mais inflação. E o pior é que não há solução de curto prazo. Mesmo que o país fizesse as reformas de imediato, os resultados só começariam a aparecer no médio prazo.

Mas pelo menos a inflação atual pode ter efeito didático ao mostrar na prática que mudanças são necessárias. O país tem duas opções. A primeira é continuar crescendo, mas com inflação. A segunda é fazer reformas difíceis mas nas necessárias: mudar as leis do trabalho, diminuir os gastos e a burocracia estatais, ivestir mais educação entre outras.

A opção correta parece óbvia, mas o Brasil tem longa tradição de não resolver, mas sim de conviver e arrastar-se com seus principais problemas.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

I've just begun

Este é mais um teste para ver se consigo manter um blog regularmente atualizado do que um blog oficial propriamente dito.

Tratará de coisas que gosto e das quais me sinto minimamente à vontade para falar: jornalismo, fotografia, música e... economia (the dark side).

I've just begun. new material soon.



Um fim de tarde em Bauru-SP