domingo, 29 de junho de 2008

Por que a atual inflação pode ser didática para o país

Por Angelo de Assis

O Brasil atualmente cresce cerca de 5% ao ano. Isso é bom, mas o limite de crescimento econômico do país parace ter sido atingido. Tanto que a inflação está aí de volta para não deixar dúvidas. Não cresceremos 10% ao ano como a China. Não pelo menos seguindo o atual modelo econômico.

Mas e por que a inflação está dando as caras? Simples. O crescimento econômico melhorou a renda das pessoas, especialmente as mais pobres. Como entre elas há uma grande demanda reprimida por consumo, elas foram às compras. Mas aí a indústria passou a não mais dar conta de atender tal demanda. Quando começam a faltar produtos, leva quem paga mais. Ou seja, há aumento de preços, inflação.

E qual a solução? Não é difícil identificá-la, mas não é fácil implementá-la.O país precisa ser mais produtivo, as indústrias precisam de mais agilidade para produzir mais e atender a demanda. Mas para isso seriam necessárias algumas mudanças estruturais que o país nunca esteve disposto a encarar de fato.

A legislação trabalhista continua obsoleta, ainda remonta à década de 50. Sob o pretexto de proteger o trabalhador da ganância dos patrões, no ambiente atual ela causa males à força de trabalho. Tornou-se um incentivo à não contratação formal, uma vez que gera uma burocracia cara para quem contrata e dificulta a demissão quando ela é necessária. Assim, muitos trabalhadores vêem-se condenados a atuar sempre no setor informal, sem qualquer dos direitos que a legislação deveria garantir.

Além disso, no ambiente atual de competição em nível global, tanto as exigências da legislação trabalhista quanto a burocracia estatal dificultam primeiro a criação de empresas e depois o seu crescimento. Elas não permitem às empresas a dinâmica que elas deveriam ter para se adaptar às circunstâncias da economia: surgir ou expandir-se quando há demanda e serem desfeitas ou demitir quando há contração.

Apesar da adoção de políticas econômica e cambial mais liberais pelo governo Lula, a burocracia para criar ou extingüir empresas ainda é grande e mexer na legislação trabalhista é tabu. O resultado é que a economia cresceu, mas esse crescimento rapidamente chegou a seu limite. Daqui para frente, crescer mais significa mais inflação. E o pior é que não há solução de curto prazo. Mesmo que o país fizesse as reformas de imediato, os resultados só começariam a aparecer no médio prazo.

Mas pelo menos a inflação atual pode ter efeito didático ao mostrar na prática que mudanças são necessárias. O país tem duas opções. A primeira é continuar crescendo, mas com inflação. A segunda é fazer reformas difíceis mas nas necessárias: mudar as leis do trabalho, diminuir os gastos e a burocracia estatais, ivestir mais educação entre outras.

A opção correta parece óbvia, mas o Brasil tem longa tradição de não resolver, mas sim de conviver e arrastar-se com seus principais problemas.

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