segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Buracos em Cabul e em Wall Street

A “forcinha” que o governo (leia-se contribuinte) norte-americano vai dar para tirar bancos e seguradoras do buraco pode chegar no fim das contas a duas vezes o PIB do Brasil. Isso mostra que nem lá o livre mercado será levado às últimas conseqüências. O resultado é que ficará a impressão de que a irresponsabilidade de certos grupos financeiros é, em última análise, paga pelo cidadão. A percepção desse fato impedirá que alguns operadores do mercado aprendam uma dura lição e os incentiva a ser irresponsáveis de novo no futuro, quando a poeira da atual crise baixar.

É óbvio que o governo está de olho nas próximas eleições e não quer ser visto como aquele que deixou o circo pegar fogo, mas as decisões de hoje do governo quanto à economia podem influenciar o comportamento econômico e financeiro da sociedade americana nas próximas décadas. E não deve ser para melhor. Um mercado tutelado não aprende a se regular por conta própria. Mas, lá como cá, visão de longo prazo nem sempre é o que conta.

Essa crise também deixa claro que o pior inimigo dos chamados falcões de Washington, que reinaram no governo Bush, com seu apelo à hegemonia pela intimidação do poderio bélico e uma inspiração um tanto messiânica para liderar o mundo pela fé e pela força, não é a Al Qaeda. O grande adversário é sua própria falta de tato para a condução de políticas econômicas. As barbeiragens nas finanças estão se mostrando mais danosas à hegemonia norte-americana do que supostos terroristas enfiados em cavernas no Afeganistão.

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