segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O neoliberalismo morreu

Com a aprovação do pacotão de US$ 850 bi que supostamente salvará o mercado financeiro do apocalipse, o congresso norte-americano carimba o fim da política de opção pelo (e promoção mundo afora do) livre mercado iniciada no começo dos anos 80 pelo governo Reagan.

Desta vez, não há, ou pelo menos ainda não apareceram, figuras à altura de John Maynard Keynes e Frank Delano Roosevelt para dar respectivamente consistência intelectual e direcionamento político firme à empreitada da volta do estado como motor da economia. Tampouco há uma guerra moralmente aceitável ou sabidamente necessária como a II Guerra Mundial para garantir a demanda por produção que tire a economia da letargia.

Irã e Venezuela são, da perspectiva geopolítica norte-americana, ratos que rugem, para usar uma expressão hoje corrente. Não são inimigos à altura do Japão imperial ou da Alemanha nazista. E ao contrário do período entre-guerras da década de 30, o orçamento militar dos EUA já é alto e o arsenal disponível, grande. Isso sem falar que ele tem sido de pouca utilidade contra o inimigo difuso e superestimado do terrorismo internacional. Não há, resumindo, um cenário de canalização de esforços que facilite a saída da crise como houve no fim dos anos 30.

A era Bush começou com a queda do World Trade Center, para a qual ele não estava preparado, e termina com a queda de Wall Street, para a qual ele tampouco estava pronto. Ela deixa como herança certa omissão quanto à fiscalização e regulamentação das práticas de mercado e uma conta para o contribuinte pagar pela má gestão ou má fé de alguns atores do mercado financeiro. E fica a impressão de que eles podem continuar operando da mesma forma, pois não serão purgados pelo mercado já que o governo vai pagar a conta.

Bush sairá de cena ainda meio zonzo, sem saber direito o que aconteceu em setembro de 2008, mas tendo ajudado a pregar – com suas ridículas aparições na TV implorando a aprovação do pacote de ajuda aos bancos – o caixão do neoliberalismo que reinou na América por quase trinta anos. Um triste fim para um político republicano, mas bem merecido para ele.

Trinta anos foi também o tempo que o modelo econômico oposto, o do estado grande, reinou desde o fim da Segunda Guerra até a ascensão de Margaret Thatcher, quando a situação da Inglaterra havia decaído a ponto de o ex-império chegar à humilhação de sondar o FMI para pedir uns trocados. Depois foi a vez de Ronald Reagan, que chegou à Casa Branca nos anos 80 com o mesmo discurso da colega britânica sobre o enxugamento do estado. Como tudo hoje anda meio acelerado, pode ser que a nova moda de estadão pós-crack de 2008 nem dure tanto. Só o tempo dirá.

Mas enquanto nuvens negras ainda pairam no céu, as bolsas desabam e a economia de livre mercado sai pela porta dos fundos, surge uma janela de oportunidade para o terrorismo. Até agora menos capaz de derrotar Washington do que as carteiras de derivativos fajutos de Wall Street, ele pode aparecer de novo em cena, pois o ideal seria atacar justamente num momento de fraqueza dos EUA. Os alvos potenciais que se cuidem.

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